terça-feira, 22 de julho de 2008

Um pouco da minha história - memórias dos sabores

A história de um cozinheiro, independentemente de que rumos tome, amador ou profissional, sempre começa com uma paixão infantil despertada na criança pelos vapores mágicos vindos da cozinha, barulhos agradáveis, promessas de bem estar, afetos comunicados por bocados, generosos quitutes feitos com o tempero do prazer e do amor.

A minha começou assim.

Minha mãe, prendada nas artes manuais, e do bom gosto, sempre cozinhou bem, mas tinha medo de desagradar e isso reduziu o seu repertório. Não importa, comemorei 40 anos este mês com a sua receita de bolo de morango responsável por muitos aniversários deliciosos. Hoje em dia encontramos morango o ano todo, mas quando era menina morango só dava no inverno e tinha sabor de festa, porque faço anos em julho. Lógico que a primeira receita que aprendi foi do pão-de-ló da mamãe.


Nós morávamos em São Paulo, longe das famílias dos meus pais, que são de Petrópolis e do Rio.Sou uma paulista carioca. Só me sentia "em casa" quando o carro era "tocado" pelo cheiro da maresia ao se aproximar da Avenida Atlântica, onde se encontrava a casa da minha avó paterna. Lá também nos esperavam outros aromas de boas-vindas, carne assada, pernil, língua defumada com grão de bico, cuscuz-paulista (rárárá), bolo de chocolate - nunca mais comi outro igual ao da Dite e da Gagá, as mineiras empregas da vovó - tutu mineiro e tantos outros.

Certo, a comida era deliciosa, no entanto tão importante quanto seu paladar era a afetividade e seu efeito agregador. Imaginem só que para mim as comidas das férias simbolizavam a alegria de estar com os primos e de pertencer às histórias familiares dos meus pais. Meu maior sonho era ter aquela celebre refeição de domingo na casa dos avós com a família. Nunca tive isto e pelo visto só poderei ter quando eu mesma for avó, pois moro a 400 km dos meus pais e a um oceano de distância da família do meu marido.

Um comentário:

Guilherme E M B Roxo disse...

E o café da manhã com vista para o mar?
E o biscoito de polvilho com mate na praia?
E as balas na fila do cinema?
E o pavê de chocolate e biscoitos?
E a lata de biscoitos?
E o pão almofada com requeijão no quarto gelado?
E aquele armário cheio de refrigerantes?
E aquela geladeira velha sem conta?
E aquela máquina de fazer sorvetes?
E o croquete no caminho para Petópolis?
E o presunto da casa do vovô?
Pode escrever mais que agora bateu saudade!