quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Almoço Thai X Almoço Brasileiro – Viajando na cozinha com Sasiporn

Sou voluntária em um programa de intercâmbio cultural chamado AFS Intercultural Programs www.afs.org.br, com o qual viajei quando tinha 17.

Foi um marco na minha vida. Adolescente naquela época, o mundo já estava se abrindo para mim, mas conhecer outro país da forma como conheci mudou minha perspectiva profundamente. Fiz parte de uma família que não conhecia antes por um ano, estudei em um colégio como se o tivesse freqüentado desde pequena e fiz o que pude para aprender uma língua diferente e entender todos os códigos de uma cultura nova para mim.

Tive muita sorte, morei em San Francisco, Califórnia, com uma família que tinha a mesma estrutura que a minha – pai médico, mãe, três filhos, classe média. Estudei em uma escola pequena como a que freqüentava em São Paulo, uma das melhores da cidade.

Fui feliz de ser recebida com entusiasmo. Passei e ultrapassei por todas as dificuldades de adaptação intrínsecas a um intercâmbio e cresci neste ano como não poderia imaginar que cresceria. Além da janela aberta para o mundo adquirida junto com a nova língua eu acabei desenvolvendo outros lados da minha personalidade, e dons que eu não sabia que existiam.

Convivi rodeada por pessoas que não conheciam quase nada sobre mim, sobre minha família ou minha cultura. Lidava com elas sem a mesma moldura que me continha e com a qual estava acostumada. Para o meu pai americano Brasil era Carmen Miranda, o estereótipo da brasileira tropical que eu mal conhecia. Não tivemos saída; eles foram me descobrindo aos poucos, ao mesmo tempo em que eu ia me adaptando a realidade deles. Somente na volta para o Brasil, quando me deparei com as antigas referências, é que me dei conta das transformações que haviam ocorrido em mim. Não foi nada fácil, mas foi um barato, outra etapa da viagem.

Hoje estou muito contente. Estou podendo contribuir para que outros estudantes, brasileiros e estrangeiros, possam ter a oportunidade de viver uma experiência rica como foi a minha.

Contribuindo como? Sendo voluntária do mesmo AFS que é um programa sem fins lucrativos, baseado em voluntariado.

Trabalho para o comitê do Rio de Janeiro, exercendo atualmente algumas funções como a de vice-presidente e de conselheira. No momento minha aconselhada é uma tailandesa doce doce.


Sherry esta tendo a sorte que tive. Mora em uma cidade especialmente bela, com cidadãos de cabeça aberta, cativantes, estuda em uma das melhores escolas do Rio e tem uma família carinhosa que está feliz em recebê-la.

Em comum também temos a paixão pela cozinha. O sonho de Sherry é ser cozinheira profissional. Quando soube fiquei logo entusiasmada. Conversamos muito por e-mail antes de ela chegar e combinamos com sua mãe hospedeira de fazermos um almoço Thai para apresentá-la aos amigos da família.

Na bagagem Cherry trouxe dois livros, escolhemos algumas receitas e fizemos a lista de compras. Pronto, nossa viagem gastronômica começou.


Na bagagem Cherry trouxe dois livros, escolhemos algumas receitas e fizemos a lista de compras. Pronto, nossa viagem gastronômica começou.

Aconselhada pelo amigo e ex-aluno, com muito orgulho, David Zisman – dono e chef do Nam Thai www.namthai.com.br – fomos fazer compras no mercado oriental Mei-Jo 

 Mei-Jo

Rua Marques de Abrantes, 219 ljs c/d.
Flamengo - Rio de Janeiro - RJ
Tel: (21) 2551-2824

Sábado de manhã chegam os legumes, fresquinhos. O lugar, pequenininho, fica repleto de orientais, mais poucos ocidentais, perdidos como eu, ou não. Rezei para encontrar a mãe de um amigo, D. Teresa, ela mora perto. Não, ela não estava lá. Um simpático médico formado em Hong-Kong nos desvendou os caminhos e esconderijos do mercado, nos deu dicas, nos apresentou ingredientes e nos fez comprar uma fruta deliciosa Olho de Dragão, ou longan (Dimocarpus longan Lour). Parente da lichia e do guaraná . Oba! Nossa sobremesa estava resolvida.

foto da longan:  homensmodernos.wordpress.com/2008/03/page/3/

Já mais tarde, na cozinha, nossa menina parecia um carnerinho saltitante, como Eloisa já a descreveu. Entusiasmada misturava, aromas, pulava com resultados que considerava satisfatórios.

 

Eu ia tentando organizar a revolução alquímica, coordenando a limpeza dos legumes, lembrando-a das quantidades, de que pratos tínhamos para fazer. Maria, sua colega de turma, nos ajudava e, com curiosidade, ia experimentando tudo.

Aos poucos fui me dando conta de que realmente todo meu referencial culinário oriental é japonês e indiano.

Aprender a linguagem de uma cozinhar de outra cultura é um pouco como aprender a se expressar em uma língua diferente. Os temperos e a base são interiorizados aos poucos, devagar. A que se ter paciência.

    ต้มข่าไก่

Tom Kha Kai -  Sopa de galinha com leite de coco

Cherry tem de acreditar que estará falando português daqui a alguns meses, e, quem sabe, também cozinhando um pouco de comida brasileira.


Para acelerar estes conhecimentos promovi o encontro dela e dos estudantes estrangeiros que já estão no Rio a seis meses com um almoço bem brasileiro feito por nós duas: arroz branco, feijão preto com paio e lombo salgado, farofa, couve e laranja, de sobremesa pudim de leite.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Uma Semana em Lisboa

Uma semana de resgate, resgate não, evolução.
Evolução da minha cozinha, de uma amizade, da minha paixão por Portugal. Tem viagens destinadas a ultrapassarem seus objetivos. Esta foi assim. No voo diurno de volta para o Rio tive aquele tempo precioso para refletir. Cheguei à conclusão de que esta viagem foi ótima, mas não terminou, foi pelo contrário uma etapa de uma viagem que teve início a 15 anos atrás e que não tem previsão de término.

Desta vez meu amigo, chef Vitor Sobral, me convidou para fazer dois jantares brasileiros, 23 e 24 de janeiro, no seu Terreiro do Paço em Lisboa. www.vitorsobral.com www.terreiropaco.com


INÍCIO DA VIAGEM:


Conheci Vitor em 1994, quando eu trabalhava para o Grill One, restaurante carioca de um empresário visionário.

Williams, sócio-diretor do Grill One, ao saber estava indo para a Europa nas férias me pediu para ir à Lisboa conhecer o chef que viria fazer um festival português conosco. Fui contente, nunca tinha ido a Portugal, e assim, sem pretensões, marquei uma breve reunião com o chef executivo do Sofitel.

Qual não foi meu espanto quando se apresentou como o chef executivo do hotel um rapaz novinho de 25 anos. Nossa reunião foi uma boa providência, pois descobri imediatamente que falávamos os dois português, mas certamente não era a mesma língua.

Voltei para o Brasil pronta para organizar o festival, com a lista de ingredientes traduzida e conhecida e com esperanças de fazer um bom trabalho.

O festival foi um sucesso, Vitor e nossa equipe na cozinha, apresentando a verdadeira cozinha portuguesa em releitura mais leve, o famoso fadista Carlos do Carmo na sala. Foi um privilégio e uma sorte. Quem foi não esquecerá.

(Ciça Roxo, Leonor Tasca e Vitor Sobral - aulas nas Queridas Primas 1995)


Eu e Vitor nos demos tão bem que resolvemos que ele haveria de fazer outros festivais no Brasil. Na época eu tinha minha escola de gastronomia, Queridas Primas, e por ser de paulista, planejamos fazer o próximo festival em São Paulo, com sequência de aulas na minha escola no Rio.


(cardápio festival A Nova Cozinha Portuguesa, São Paulo 1995 - foto: Reinaldo e Thais Mandacaru)


O projeto audacioso deu certo.

Graças à dica da colunista de gastronomia do Globo da época, Ana Cristina Reis (hoje em dia editora do Caderno Ela). Ana Cristina me sugeriu que entrasse em contato com um colega, Josimar Melo josimarmelo.blog.uol.com.br, e ele saberia me dizer aonde hospedar o festival. Josimar e Sofia Carvalhosa, naquele momento sua esposa, foram muito gentis e me guiaram. Acabou que contratei Sofia para fazer a assessoria de imprensa, a versão paulista do festival A Nova Cozinha Portuguesa foi um grande sucesso. Alí outras grandes amizades e novas viagens iniciaram.



(Vitor Sobral, Josimar Melo, Sofia Carvalhosa, Ciça Roxo - L'Arnaque 1995)

(Vitor Sobral e marília Gabriela em seu programa - 1995)