Sou voluntária em um programa de intercâmbio cultural chamado AFS Intercultural Programs www.afs.org.br, com o qual viajei quando tinha 17.
Foi um marco na minha vida. Adolescente naquela época, o mundo já estava se abrindo para mim, mas conhecer outro país da forma como conheci mudou minha perspectiva profundamente. Fiz parte de uma família que não conhecia antes por um ano, estudei em um colégio como se o tivesse freqüentado desde pequena e fiz o que pude para aprender uma língua diferente e entender todos os códigos de uma cultura nova para mim.
Tive muita sorte, morei em San Francisco, Califórnia, com uma família que tinha a mesma estrutura que a minha – pai médico, mãe, três filhos, classe média. Estudei em uma escola pequena como a que freqüentava em São Paulo, uma das melhores da cidade.
Fui feliz de ser recebida com entusiasmo. Passei e ultrapassei por todas as dificuldades de adaptação intrínsecas a um intercâmbio e cresci neste ano como não poderia imaginar que cresceria. Além da janela aberta para o mundo adquirida junto com a nova língua eu acabei desenvolvendo outros lados da minha personalidade, e dons que eu não sabia que existiam.
Convivi rodeada por pessoas que não conheciam quase nada sobre mim, sobre minha família ou minha cultura. Lidava com elas sem a mesma moldura que me continha e com a qual estava acostumada. Para o meu pai americano Brasil era Carmen Miranda, o estereótipo da brasileira tropical que eu mal conhecia. Não tivemos saída; eles foram me descobrindo aos poucos, ao mesmo tempo em que eu ia me adaptando a realidade deles. Somente na volta para o Brasil, quando me deparei com as antigas referências, é que me dei conta das transformações que haviam ocorrido em mim. Não foi nada fácil, mas foi um barato, outra etapa da viagem.
Hoje estou muito contente. Estou podendo contribuir para que outros estudantes, brasileiros e estrangeiros, possam ter a oportunidade de viver uma experiência rica como foi a minha.
Contribuindo como? Sendo voluntária do mesmo AFS que é um programa sem fins lucrativos, baseado em voluntariado.
Trabalho para o comitê do Rio de Janeiro, exercendo atualmente algumas funções como a de vice-presidente e de conselheira. No momento minha aconselhada é uma tailandesa doce doce.
Sherry esta tendo a sorte que tive. Mora em uma cidade especialmente bela, com cidadãos de cabeça aberta, cativantes, estuda em uma das melhores escolas do Rio e tem uma família carinhosa que está feliz em recebê-la.
Em comum também temos a paixão pela cozinha. O sonho de Sherry é ser cozinheira profissional. Quando soube fiquei logo entusiasmada. Conversamos muito por e-mail antes de ela chegar e combinamos com sua mãe hospedeira de fazermos um almoço Thai para apresentá-la aos amigos da família.
Na bagagem Cherry trouxe dois livros, escolhemos algumas receitas e fizemos a lista de compras. Pronto, nossa viagem gastronômica começou.
Na bagagem Cherry trouxe dois livros, escolhemos algumas receitas e fizemos a lista de compras. Pronto, nossa viagem gastronômica começou.
Aconselhada pelo amigo e ex-aluno, com muito orgulho, David Zisman – dono e chef do Nam Thai www.namthai.com.br – fomos fazer compras no mercado oriental Mei-Jo
Rua Marques de Abrantes, 219 ljs c/d.
Flamengo - Rio de Janeiro - RJ
Tel: (21) 2551-2824
Sábado de manhã chegam os legumes, fresquinhos. O lugar, pequenininho, fica repleto de orientais, mais poucos ocidentais, perdidos como eu, ou não. Rezei para encontrar a mãe de um amigo, D. Teresa, ela mora perto. Não, ela não estava lá. Um simpático médico formado em Hong-Kong nos desvendou os caminhos e esconderijos do mercado, nos deu dicas, nos apresentou ingredientes e nos fez comprar uma fruta deliciosa Olho de Dragão, ou longan (Dimocarpus longan Lour). Parente da lichia e do guaraná . Oba! Nossa sobremesa estava resolvida.
foto da longan: homensmodernos.wordpress.com/2008/03/page/3/
Já mais tarde, na cozinha, nossa menina parecia um carnerinho saltitante, como Eloisa já a descreveu. Entusiasmada misturava, aromas, pulava com resultados que considerava satisfatórios.
Aos poucos fui me dando conta de que realmente todo meu referencial culinário oriental é japonês e indiano.
Aprender a linguagem de uma cozinhar de outra cultura é um pouco como aprender a se expressar em uma língua diferente. Os temperos e a base são interiorizados aos poucos, devagar. A que se ter paciência.
Cherry tem de acreditar que estará falando português daqui a alguns meses, e, quem sabe, também cozinhando um pouco de comida brasileira.
Para acelerar estes conhecimentos promovi o encontro dela e dos estudantes estrangeiros que já estão no Rio a seis meses com um almoço bem brasileiro feito por nós duas: arroz branco, feijão preto com paio e lombo salgado, farofa, couve e laranja, de sobremesa pudim de leite.